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Modelo de Anápolis é a primeira mulher trans a disputar o concurso Miss Brasil Mundo: 'Cheguei no inimaginável'
Competição seria em outubro, mais adiada para o próximo ano devido à pandemia de coronavírus. Rayka Vieira sonha em conquistar o título para dar voz às mulheres transexuais.
Após mais de 60 anos de realização de concursos para mulheres cisgênero, a modelo Rayka Vieira Santos, de 25 anos, será a primeira mulher transexual a concorrer no Miss Brasil Mundo. A candidata, que mora em Anápolis, a 55 km de Goiânia, já conquistou o título de Miss Centro Goiano CNB 2020/2021.
Ela conta que já se considera uma vitoriosa só de poder participar do concurso de beleza, mas que, fazer parte do Miss Brasil, é muito importante para compartilhar sua história e encorajar outras mulheres transexuais que desejam passar pela experiência.
Para Rayka, ser miss é mais que beleza física, um título e uma coroa.
"É ser muito mais do que uma mulher bonita, é ser uma mulher que abraça todas as causas sem distinção, com amor e com determinação, que usa a sua voz pelo bem, alguém que, com a visibilidade, pode ajudar em várias causas", afirma.
"Não quero esse título apenas por beleza, quero usar dele para que, por onde eu passar nesse país, eu possa deixar uma mensagem de coragem e força para as pessoas que cruzarem meu caminho", pontua.
Sonho
Trabalhando como modelo há seis anos, Rayka conta que sempre acompanhou as amigas participando de concursos beleza e tinha vontade de concorrer. O sonho de se tornar miss é antigo, segundo ela, e só recentemente começou a se tornar uma realidade próxima.
"Venho acompanhando amigas sempre concorrendo e eu sempre ali de olho, pensando se, quem sabe, um dia poderia ser eu. Sonhava um dia concorrer em um regional, mas nunca pensei que poderia concorrer em um concurso a nível nacional, representando as mulheres da minha região. Hoje estou aqui e estou muito feliz, cheguei no inimaginável", comemora.
A candidata conta ainda que o lema do concurso é "Beleza pelo Bem". Rayka comenta que só em participar já tem oportunidades de ter voz para representar as mulheres transexuais e desenvolver um projeto voltado para o público LBTQI+.
"As pessoas podem ter uma visão diferente, elas podem nos ver e saber que existimos, podemos estar em todos os lugares. Tem um valor agregado gigante porque o lema concurso é chamado de beleza pelo bem, poder participar do concurso está me dando a oportunidade também de fazer um projeto voltado ao público LBTQI+ que muitas vezes é esquecido", comenta.
"Quero fazer algo especial, pois eu senti essa dor e sinto todos os dias. Quero ajudar jovens a terem tratamentos especializados para não se perderem na caminhada", afirma.
Competição adiada e mudanças de hábitos
A competição estava prevista para o fim de outubro, porém, devido à pandemia do novo coronavírus, foi adiada para 4 de março do próximo ano, em Alagoas. Com a participação confirmada no concurso, a candidata explica que houve mudanças na rotina, em relação à atividade física, procedimentos estéticos e também na alimentação.
"Tem apenas duas semanas que tudo começou e, devido à grande repercussão, não estou conseguindo ainda tirar muito tempo para cuidados estéticos. Por três anos eu fazia musculação e corria. A dieta era totalmente diferente também da minha alimentação de hoje, porque meu foco era outro", relata.
Além disso, a modelo afirma que deve focar em um projeto social e se preparar psicologicamente, uma vez que enfrenta, como um dos desafios, os ataques sofridos na internet.
"Nesses seis meses quero me preparar bem e focar também no meu projeto social, que acredito ser a parte mais importante, além de preparar também minha parte psicológica, visto que os ataques também são muitos. Nessa noite mesmo fui surpreendida com o post de um pastor disseminando ódio contra mim nas redes. Preciso, além do físico, preparar minha mente. Ser miss é isso", pontua.
Transexualidade e preconceito
Rayka conta que a transição ocorreu há 10 anos. Na infância, ela chorava ao cortar os cabelos. Já na pré-adolescência, quando se vestia com roupas masculinas, não se sentia bem e tinha preferência por roupas pretas por dar impressão de algo mais neutro. "Já com 15 anos não suportei mais e comecei a minha transição", diz.
A modelo diz que teve o apoio da mãe desde o início e, depois de alguns anos, do pai. "Graças a Deus eu fui criada em um lar de amor e, com muita conversa e conhecimento, ela [mãe] me apoiou. Já a relação com meu pai, por ele ter outra família, passamos oito anos sem nos falar. Hoje, superamos o orgulho e o preconceito e é só amor e respeito", comenta.
Ainda segundo a modelo, há uma certa resistência por parte das mulheres transexuais em relação à participação em concursos de beleza, devido ao medo de ataques preconceituosos.
"Nós temos que provar o tempo todo que somos boas, qualquer deslize é motivo de piada ou chacota. O recado que quero deixar é que vocês não tenham medo , vivam o sonho de vocês e não o sonho do outros. Milhares de pessoas vão apoiar vocês, pois o amor sempre vence."
Fonte: G1 GO