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Queimadas florestais em 2020 podem ser piores do que em 2019
Relatório aponta aumento de queimadas em todo mundo; na Amazônia, de 1/1 a 23/8/20, há 45% mais queimadas do que nos últimos 10 anos
Um novo relatório do WWF e do BCG (Boston Consulting Group) mostra que o número de alertas de queimadas em todo o mundo, a partir de abril, subiu 13% em relação ao ano passado –que já havia sido um ano recorde (1). O clima persistentemente mais quente e seco devido às mudanças climáticas e ao desmatamento causado principalmente pela conversão de terras para a agricultura são os principais fatores. Esse é o caso da floresta amazônica, que tem no desmatamento uma das principais causas de queimadas. A expansão da agricultura, extração ilegal e insustentável de madeira continuam a impulsionar a conversão e a degradação dos habitats naturais, aumentando assim o risco de queimadas.
“A tragédia que testemunhamos em 2019 não ficou restrita àquele ano e vem se repetindo em 2020: se nada for feito, veremos um ciclo de altos níveis de desmatamento e queimadas se repetindo anualmente, já que as áreas desmatadas são bem mais vulneráveis às queimadas na Amazônia”, alerta Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. “Infelizmente as ações do governo não estão sendo eficientes para interromper esse padrão”, declara. Além de um retrato da situação global, o relatório "Queimadas, Florestas e o Futuro: Uma Crise Fora de Controle?" [em inglês] também inclui recomendações para reversão desse cenário.
Os dados mais recentes mostram que os incêndios na Amazônia brasileira, de 1 de janeiro a 23 de agosto de 2020, são 45% maiores do que a média de dez anos e 35% maiores do que nos últimos três anos. O número de queimadas na região atingiu a maior alta em 13 anos em junho, no início da estação seca. Em julho, foram detectados 6.803 focos de incêndios, 28% a mais do que o mesmo período em 2019. Simultaneamente, o desmatamento tem crescido de forma constante na Amazônia brasileira. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, os alertas de desmatamento foram 33% maiores no do que em igual período do ano anterior. O WWF pede a implementação de medidas emergenciais imediatas, como banir o desmatamento na Amazônia por cinco anos (2).
A ação humana é responsável por três em cada quatro queimadas em florestas no mundo, destaca o relatório. Se as tendências atuais continuarem, haverá consequências devastadoras no longo prazo devido à liberação de milhões de toneladas extras de dióxido de carbono. Isso se soma aos impactos imediatos que dizimam a biodiversidade, destruindo ecossistemas vitais, ameaçando vidas, propriedades e meios de subsistência e economias, junto com o risco de graves problemas de saúde no longo prazo. Todos os anos, há cerca de 340.000 mortes prematuras por problemas respiratórios e cardiovasculares atribuídos à fumaça de incêndios florestais. E em 2020, nos países mais atingidos por queimadas, a fumaça está aumentando o perigo da Covid-19: um estudo de Harvard mostrou que um pequeno aumento na exposição de longo prazo a partículas contidas na fumaça pode aumentar as taxas de mortalidade de Covid-19 em até 15%.
“O mundo testemunhou as consequências devastadoras dos incêndios no ano passado, de bilhões de animais mortos e pessoas perdendo suas casas e meios de subsistência, sem mencionar o impacto no clima. E, no entanto, aqui estamos nós novamente”, disse Fran Price, Líder Global para Florestas do WWF. “A proatividade e o compromisso devem estar no centro de uma resposta global às queimadas e devem ocorrer em níveis local, subnacional, nacional e regional. Prevenir queimadas antes que ocorram é fundamental e muito mais eficiente em todos os aspectos do que as suprimir quando acontecem. Boas intenções no papel não significam nada se não forem acompanhadas por ações reais e eficazes na prática -e essas ações precisam se concentrar urgentemente nas florestas e no combate às mudanças climáticas”, completou.
Em termos de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), as queimadas em florestas são de longe a fonte mais significativa: apesar de representarem apenas 7% da área total queimada, sua maior capacidade de armazenamento de carbono faz com que as florestas sejam responsáveis por 38% do total de emissões de GEE liberadas durante esses eventos. Em 2019, a queima de florestas na Amazônia, Austrália e Indonésia representaram 3-4% do total de emissões de carbono do mundo. O carbono liberado pelas queimadas, por sua vez, intensifica a crise climática que está tornando as temporadas de incêndios mais longas e extremas. Nos últimos 35 anos, as temperaturas acima do normal aumentaram a duração média da temporada de fogo em 30-50%. Se nenhuma ação for tomada sobre a mudança climática, os cientistas projetam que, no pior cenário, até 2100 a área queimada por ano poderá retornar desastrosamente aos níveis vistos pela última vez na década de 1950, queimando um milhão de quilômetros quadrados a mais a cada ano do que hoje.
Jesper Nielsen, diretor executivo e sócio sênior do BCG, destacou que “o momento nunca foi tão crítico para a ação climática. 75% dos incêndios são causados por atividades humanas. A mudança climática está contribuindo amplamente para o agravamento da situação. Como as queimadas também reforçam o aquecimento global, está ocorrendo um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. Um maior enfoque em medidas de prevenção e proteção, especialmente para as florestas, certamente faz parte da resposta. Governos e empresas precisam lidar com essa questão de forma coordenada, antes que haja danos irreversíveis para o nosso planeta.”
O relatório "Queimadas, Florestas e o Futuro: Uma Crise Fora de Controle?" faz um mergulho mais profundo nas tendências dos incêndios e no que elas significam para as pessoas e o planeta, e apresenta algumas recomendações para abordar as principais causas.
Fonte: WWF-Brasil