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Pesquisadores apostam em substâncias extraídas de venenos de serpentes para o tratamento de doenças
"Infecciosas ou degenerativas em Rondônia"
Os casos de envenenamento com serpentes (acidentes ofídicos) são muito comuns, especialmente em ambientes rurais. O Sistema de Informação de Agravo de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, aponta aumento no índice de acidentes com serpentes nos últimos 3 anos em todo o país. Entre 2016 e 2018, foram registrados 84.241 acidentes. Em Rondônia, no mesmo período, foram contabilizados 1.546 acidentes.
A única unidade que é referência, no estado, em doenças tropicais, o Centro de Medicina Tropical (Cemetron) realizou, em 2017, 169 notificações de acidentes ofídicos em Porto Velho, contra 219 em 2018. De janeiro a março deste ano, 63 casos foram notificados na capital e uma pessoa morreu por complicações após o acidente. Os dados são do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NVEH) do Cemetron.
Se, por um lado, esses dados reforçam a necessidade de ampliar o atendimento às vítimas de acidentes ofídicos, por outro, destacam a importância de estudos realizados com venenos de serpentes para o tratamento de doenças infecciosas ou degenerativas, “pois os venenos de animais são fontes muito ricas de moléculas bioativas. Essas moléculas podem ser modificadas ou utilizados em menor concentração para fins terapêuticos”, explica o pesquisador em Saúde Pública, Leonardo de Azevedo Calderon, do Centro de Estudos de Biomoléculas Aplicadas à Saúde (CEBio), da Fiocruz RO.
De acordo com o pesquisador, atualmente, o CEBio desenvolve diversos estudos nessa linha, e alguns com resultados expressivos que demonstram a viabilidade do uso dessas substâncias em novas terapias associadas à saúde humana, como é o caso de uma patente que refere-se à associação entre a substância utilizada na terapia da Leishmaniose, o Glucantime,® e a Crotamina, proteína isolada do veneno de cascavel (Crotalus durissus terrificus). Com essa combinação, foram observadas melhorias na eficiência do medicamento em relação à inibição do crescimento de formas do parasito de Leishmania amazonensis, o causador da Leishmaniose.
Outro estudo de relevância é uma pesquisa de doutorado, financiada pelo governo do Estado, por meio da Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado e Rondônia (Fapero). Ainda em andamento, o trabalho apresenta a descoberta de dois compostos extraídos do veneno de serpentes da espécie Bothrops jararacussu, muito comum na região Sul do país. No estudo foram identificadas duas jararacas nativas da região amazônica, em que o veneno é similar ao da jararacuçu. De acordo com os pesquisadores em Saúde Pública, Juliana Zuliani e Leonardo Calderon, que integram a pesquisa, a descoberta de uma enzima que pode minimizar o processo de inflamação da Leishmaniose constitui-se em ponto alto do estudo.
NOVOS CAMINHOS À PESQUISA
Leonardo Calderon explica que todos esses trabalhos buscam abrir caminhos para o desenvolvimento de novas terapias para as doenças que afligem as populações da Amazônia, pois “ao obtermos uma terapia mais acessível, com menos efeitos colaterais para o paciente e mais eficiente, inspirada na Amazônia, todos serão beneficiados”, conclui.
Ainda segundo ele, esses trabalhos são apenas alguns exemplos de dezenas de teses e dissertações desenvolvidas no CEBio, por acadêmicos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, todos incorporam alguma inovação em seus processos abrindo caminhos para novas abordagens que, certamente, poderão contribuir com ações voltadas à melhoria no diagnóstico e tratamento de doenças infecciosas com alta prevalência na região amazônica.
O pesquisador ressalta a importância de agências de fomento à pesquisa no Estado de Rondônia como a Fapero, que vem garantindo recursos financeiros para o desenvolvimento de diversos projetos nas áreas da saúde, tecnologia e inovação.
Vale ressaltar que mesmo com o suporte da Fapero, ainda há necessidade de investimentos para garantir a aquisição e manutenção de grandes equipamentos científicos, e “devido a esta deficiência, os pesquisadores da região Norte acabam dependendo da disponibilidade de agenda destas tecnologias nos estados do Sul e Sudeste”, finaliza o pesquisador.
Fonte: Assessoria de Imprensa