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O AGRONEGÓCIO VEM TRANSFORMANDO A PONTA DO ABUNÃ EM RONDÔNIA
Ponta do Abunã se destaca na produção de Castanha do Pará

Publicado 24/06/2019
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Fotos: Frank Nery e Dnit - Secom

Das margens do rio Madeira na cabeceira da ponte em construção, prevista para ser inaugurada no segundo semestre, até a divisa com Acre, num eixo de 160 quilômetros de extensão pela Br 364, são 225 mil hectares de terras planas ocupadas racionalmente por 265 mil cabeças de bovinos de corte e leite que começa a ser descoberta pela agricultura de precisão, soja e milho sem que seja necessário derrubar uma árvore.

Essa vasta região que até há bem pouco tempo fora palco de dualidades e conflitos entre Rondônia e Acre, porém no presente, pela sensibilidade dos governadores Marcos Rocha (RO) e Gladson Cameli (AC), deixando as rusgas pelo meio do caminho e mirando no futuro respira progresso e desenvolvimento. Por determinação dos dois governantes, os secretários de agricultura de Rondônia Evandro Padovani e Paulo Wadt, do Acre, formatam um projeto para ampliar o agronegócio na região.

Acrescente-se mais 140 mil hectares de solos férteis no sul de Lábrea no Amazonas, onde estão alojados 108 mil cabeças de bovinos, cujo destino e saída é pelo estado de Rondônia, tendo como única via de escoamento a Br 364, quanto em direção ao Acre como ao sul do País. Por ser uma região nova onde agronegócio começa a se consolidar os três estados são principais beneficiados, conforme revela Ednaldo Santos, gerente da agência do Banco da Amazônia no distrito de Extrema.

Nos últimos 12 meses foram firmados contratos de crédito rural, no valor de R$ 17,2 milhões, pelo Banco da Amazônia com amparo do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) e mais 1,04 milhões para pequenos empresários da região. Estimam os técnicos da Emater que a estrutura fundiária no distrito de Extrema gira em torno de 550 propriedades rurais 50% menor de 100 hectares predominando agricultura familiar, com produção de grãos, fruticultura, criação de pequenos animais e bovinos de corte e leite.

UM POUCO DA HISTÓRIA DA REGIÃO

Até o final de 1980, o governo de Rondônia não investiu nesta região, até então ocupada e explorada pacificamente pelo estado do Acre. Em 1988, o governo de Jerônimo Santana começou a ocupar paralelamente, gerando um conflito e dividindo a opinião pública, até 1977, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu a favor de Rondônia. Contudo a região continuou sem investimentos, contando ainda com o aumento de centenas de agricultores com títulos provisórios emitidos pelo Incra.

No entanto, até os dias atuais centenas de propriedades estão ocupadas ilegalmente. O litígio não permitiu em 1992 a criação do município de Extrema, ou Ponta do Abunã. Os distritos de Extrema, Nova California, Vista Alegre do Abunã e Fortaleza do Abunã, participam com mais de 30% da arrecadação do município de Porto Velho.

A Ponta do Abunã é a região mais importante do estado de Rondônia, em extração da Castanha do Pará, sustentada por uma densidade de castanheiras extraordinariamente elevadas nas florestas locais. Também se destaca o extrativismo do açaí, muito abundante nas matas ciliares da bacia do Abunã e a borracha que ainda é extraída em pouca quantidade e comercializada no estado do Acre.

 

COERÊNCIA E MUDANÇAS

Na opinião do pecuarista José Silvério Pereira Baia, que engorda 3,5 mil cabeças de bovinos por ano no sistema de rodízio colocando 60 animais por área de 14 alqueires a cada dez dias, “essa é a melhor região de Rondônia para trabalhar e produzir, isso aqui é um cantinho do céu”. Acentua que votou em Marcos Rocha pela necessidade de mudanças.

Com melhoramento genético e manejo adequado numa região que mesmo no período seco chove a cada dois meses, as pastagens permanece verde, o rebanho não perde peso e qualidade.

Outro que não pode se queixar da sorte é o pequeno produtor rural Loy Maleski, que prepara a segunda safra adubada e irrigada de 5 mil pés de açaí em 20 hectares de área cultivada. Usando a mesma técnica mantêm produzindo 600 pés de côco, 120 mil pés de abacaxi, consorciado com melancia, milho verde e 600 pés de ponkan enxertados.

Loy Maleski recebe apoio técnico da Emater em Extrema, mas por falta de condições para transportar sua produção até Porto Velho, principal centro consumidor em Rondônia, negocia sua produção com estado do Acre.  Dezenas, talvez centenas, de pequenos e médios produtores rurais desta região seguem o mesmo rumo pela ausência de condições de comercializar suas produções no próprio estado de origem.

Pode não ser “o pedacinho do céu” apregoado pelo pecuarista, José Silvério Pereira Baia, mas é uma região tipicamente miscigenada por culturas e costumes de famílias mineiras e sulistas, que acordam de madrugada aproveitando a “fresquinha” matinal para produzir e ordenhar suas vaquinhas.

Sócrates Carmim produzindo entre 80 e 100 litros de leite/dia é o exemplo da agricultura familiar que tem dado certo na região. Na propriedade de 100 hectares cria ovinos, suínos, galinhas caipiras, tem café e milho, explorando apenas 33 hectares, as outras 77 são reserva de preservação ambiental. Conhecer a chácara de Socrates Carmim deixa qualquer ambientalista feliz.

A filha única de Sócrates e Simara, Pompéia Carmim, formada em administração, aos 23 anos salta da cama às 4 horas da madrugada para participar da ordenha de 18 vacas leiteiras seguindo a tradição familiar.

Na outra ponta da linha em se tratando de produção no campo, Abrelino Alves, consorcia café e castanha uma experiência que vem dando certo numa área de 20 hectares, que já despertou atenção de pesquisadores da Embrapa. As folhas das castanheiras adubam o solo mantendo a umidade, as altas copadas das árvores protegem dos raios solares gerando frutos fortes e sadios.

PISCICULTURA E EXTENSÃO RURAL

O que pouca gente sabe é que no distrito de Extrema, também com o acompanhamento técnico da Emater, Ilo Valmir Ribeiro, explorando 4,5 hectares de lâmina de água em 40 tanques medindo 50X15, produz 50 mil alevinos de pirarucu por safra, comercializando em Goiânia, Minas Gerais, Mato Grosso, Tocantins, Acre e Rondônia.

Com Rondônia e Acre ele comercializa 200 mil alevinos de tambaqui, 50 mil de tambatinga, 80 mil piauçú, 40 mil de pintados e 30 mil de jatuarana. Tudo isso é resultado de 15 anos de trabalho acreditando no potencial da região.

Para o médico veterinário da Emater, Fabiano Barbosa Oliveira que presta assistência técnica a 300 famílias de pequenos produtores rurais, o melhoramento genético do rebanho bovino na região é importante, uma vez que a extensão rural tem que acompanhar o desenvolvimento no campo. É verdade, o Programa de Aquisição de Alimentos em Extrema tem 56 produtores cadastrados, mas que por falta de estimulo não conseguem produzir e nem transportar para Porto Velho a produção.

Frisa Fabiano Barbosa Oliveira, o programa incentiva a produção, mas a janela é muito ampla. Mesmo assim, ele como nove entre dez produtores rurais e empresários da região acredita que ela caminha para se tornar, em pólo de desenvolvimento sustentável no norte de Rondônia.

Pecuarista José Silveiro utiliza sistema de rodízio para a engorda de 3,5 mil cabeças de gado
O produtor rural Loy Maleski cultiva mais de 5 mil pés de açaí em 20 hectares
No distrito de Extrema Ilo Ribeiro produz 50 mil alevinos de pirarucu por safra