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Número de focos de queimadas em agosto no Amazonas é o maior para um único mês desde 1998
Foram mais de 8 mil focos de queimadas registrados no Amazonas em agosto, segundo dados do Inpe.

Publicado 05/09/2020
Atualizado 05/09/2020
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O Amazonas fechou o mês de agosto deste ano com mais de oito mil focos de queimadas ativos, detectados pelo satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O dado, que já representava o maior para o mês nos últimos 22 anos, bateu outro recorde histórico e passou a ser o maior para um único mês - entre todos os outros - desde 1998.

O mês de agosto costuma ser o mais seco do ano na região e também é o período em que ocorrem os maiores índices de queimadas. A região passa pelo verão amazônico, vivenciado desde o mês de julho, que deve seguir até setembro. Segundo especialistas, o período deve ser marcado pelo aumento nas temperaturas no estado, que pode chegar até 36ºC no último mês da estação.

No primeiro semestre do ano, o Estado já havia registrado um aumento de 51,7% na quantidade de focos de queimada, em comparação com o mesmo período, em 2019. O quantitativo de queimadas no primeiro semestre deste ano bateu recorde dos últimos quatro anos no estado.

De acordo com os dados do Inpe, foram 8.030 mil focos de queimadas registrados durante o mês. Esse foi o maior número para um único mês desde que o levantamento passou a ser feito, em 1998. Até então, o maior registro de focos de queimadas havia sido em agosto de 2019, quando 6.668 focos foram detectados.

Um padrão observado nos dados mostra que o mês de agosto costuma registrar um salto no número de focos de queimadas, com o total do mês superando a soma do total dos outros sete primeiros meses do ano.

Neste ano, entre os meses de janeiro e julho, foram 2.615 mil focos constatados por satélites do Inpe, no estado. O mês de agosto apresentou um aumento de 207% nos registros em relação aos meses anteriores.

Além da atuação do Governo Federal, o combate a queimadas fica por conta de secretarias estaduais e municipais, órgãos públicos, privados e ONGs, que fazem ações em defesa do meio ambiente.

O biólogo e superintendente de Inovação & Desenvolvimento Institucional da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Victor Salviati, avaliou que o aumento de focos está relacionado com o 'empobrecimento da floresta', ou seja, a devastação, que deixa o ambiente mais vulnerável a isso.

"O aumento do desmatamento histórico na região da Amazônia corrobora com uma teoria da ciência chamada ‘ponto de não retorno’. Quanto mais desmatamento a gente tem, a gente vai deixando a floresta mais pobre. Isso deixa a floresta mais inflamável. Os incêndios e focos de calor que não são naturais, se tornam difíceis de controlar", explicou.

O ambientalista contou, ainda, que a FAS desenvolve ações de combate e controle ao fogo dentro da unidades de conservação, para que haja uma produção sustentável.

"O importante é que dentro dessas áreas, essa produção tenha um impacto, trabalhar com atividades que combatam e controlem o uso do fogo, no plantio, por exemplo de mandioca. É uma atividade efetiva, tem tido uma intensidade muito maior, mas os resultados mostram que é preciso aumentar ainda mais", destacou.

Ao analisar os dados, a gerente de Ciências da ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), Mariana Napolitano, explicou que os resultados acendem o alerta máximo diante da tendência de manutenção e até elevação das queimadas, resultando em perdas vitais ao meio ambiente.

“Se essas tendências se mantiverem, haverá consequências devastadoras devido à liberação de milhões de toneladas extras de dióxido de carbono, perda de espécies e destruição de ecossistemas vitais. Além disso, as queimadas trazem risco de graves problemas de saúde, além de ameaçar meios de subsistência locais”, alertou.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) informou, por meio de nota, que o aumento das queimadas no Amazonas está relacionado, principalmente, ao avanço do desmatamento ilegal - sobretudo entre os meses de março e maio.

Conforme a secretaria, nesse período, o Governo do Estado concentrava esforços para o combate à pandemia do novo coronavírus e a ação ilegal foi favorecida pela restrição das atividades intermunicipais do Estado, estabelecida no intuito de conter o avanço da pandemia para o interior do Amazonas.

"Tão logo tomou ciência do avanço do desmatamento na pandemia e a consequente ameaça de aumento das queimadas para 2020, o Governo do Amazonas decretou situação de emergência ambiental, inserindo ações voltadas para defesa do meio ambiente como atividades essenciais. Na ocasião, o Estado solicitou adesão à Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ao Governo Federal, para pedir apoio das Forças Armadas em ações de combate", diz a nota.

A Sema afirmou, ainda, que o aumento das queimadas no Amazonas ocorre, predominantemente, no Sul do Estado, relacionado à pressão em glebas e assentamentos federais para expansão da fronteira agropecuária e grilagem de terras. Desta forma, a Operação Curuquetê 2 está concentrada na localidade, que também é a área focal das ações voltadas para o fortalecimento da regularização fundiária e ambiental. Tais ações estão previstas no Plano de Prevenção e Controle ao Desmatamento e Queimadas (PPCDQ-AM), lançado em junho deste ano, com execução até o final de 2022.

Fonte: G1 AM