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Agricultores argentinos iniciam greve de quatro dias
Produtores protestam contra aumento do imposto de exportação

Publicado 10/03/2020
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Foto: © Agencia Brasil/Reprodução

Os agricultores argentinos decidiram realizar uma greve de quatro dias, que começou ontem (9), em protesto contra um novo aumento dos impostos sobre a exportação da soja, que passou de 30% para 33%. O governo anunciou que não se reunirá com os agricultores até o final da paralisação.

Após assumir o cargo em dezembro do ano passado, o presidente Alberto Fernández anunciou um aumento da carga tributária para exportação de soja de 24% para 30%; do trigo e do milho de 6,7% para 12%.

Estima-se que com um aumento de 10% no imposto de exportação para a soja, o governo teria uma arrecadação adicional de quase US$ 500 milhões, com uma arrecadação total de US$ 6 bilhões.

Os representantes da Mesa de Negociações (Mesa de Enlaces, em castelhano), entidade responsável pela interlocução com o governo, consideram que "o aumento de 10% nas retenções, de 30% para 33%, ocorreu no pior cenário, com seca instalada, baixos preços internacionais e negociação da dívida do país, deixando muitos produtores sem rentabilidade e em alguns casos não recuperando o que foi investido para enfrentar a próxima safra".

A greve dos agricultores foi convocada pelas Confederações Rurais Argentinas (CRA), Sociedade Rural Argentina (SRA) e Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro), todas integrantes da Mesa de Negociações.

De acordo com a imprensa argentina, a greve teve grande adesão no dia de ontem (9), com um baixíssimo movimento nos portos do país. Mas representantes dos agricultores disseram que ainda não é hora de fazer um balanço da paralisação. Anunciaram que após as 96 horas de paralisação, darão uma coletiva de imprensa e divulgarão os números finais.

A Federação Agrária da Argentina (FAA), apesar de também integrar a Mesa de Negociações, deu liberdade a seus afiliados para que aderissem ou não à greve, uma vez que dentro da própria entidade não houve consenso em relação à paralisação.

De acordo com o jornal argentino Clarín, Carlos Achetoni, presidente da FAA, disse que o protesto "não é contra o governo, mas contra o FMI, para que os organismos internacionais entendam que não devem atar as nossas mãos para produzir". Achetoni disse ainda que a greve é uma medida leve, uma vez que não deve provocar impactos nas estradas nem afetar produtos perecíveis.

Bloqueios

Antes do início da greve, os líderes das entidades agrícolas pediram aos agricultores que não bloqueassem estradas e não impedissem a circulação de veículos. No entanto, houve problemas na província de Córdoba ontem (9), onde foram registrados bloqueios de caminhões de transportadoras de grãos na cidade de Altos Fierro.

Em resposta aos bloqueios, a Federação de Transportadores Argentinos emitiu uma nota em que afirma que "não permitirá que os transportadores sejam prejudicados com bloqueios de estradas, danos aos condutores e aos veículos, por ações fundadas em razões políticas e que atentam contra as economias familiares do setor".

Presidente

O presidente Alberto Fernández disse que a greve é exagerada e incompreensível. "Não quero acrescentar palavras, mas acredito que, em algum momento, os líderes perceberão que não é esse o caminho. Eles são convocados por um grupo, que na verdade são líderes da oposição disfarçados de chacareiros. O tempo dirá como a sociedade vai avaliar, mas acho que o povo sente que essa greve é incompreensível".

O governo ofereceu uma compensação a 42 mil pequenos produtores de soja, que representam 74% dos produtores, e 23% da safra do grão. A ideia seria compensar os pequenos e médios produtores - que na safra anterior produziram até mil toneladas de soja - utilizando o saldo gerado a partir da subida do imposto. Apesar de a medida agradar parte dos produtores, há quem veja com desconfiança e duvide que o governo realmente cumpra com o prometido.