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Mulheres ganham espaço na agropecuária, mas são apenas 19% dos produtores
Carmen Perez é uma das 946,1 mil mulheres à frente de estabelecimentos agropecuário.
Aos 22 anos, Carmen Perez assumiu a direção de uma fazenda em Barra do Garças, município no interior do Mato Grosso. Criada em São Paulo, Carmen passou boa parte da infância frequentando a fazenda do avô que, no fim da vida, passou a propriedade para o nome dos filhos. Diante da intenção de venda da propriedade por parte da família, a jovem resolveu aprender a administrar a fazenda e nunca mais saiu de lá. Hoje com 4 mil hectares e 2,8 mil cabeças de gado, a fazenda Orvalho das Flores se destaca por ter implementado práticas de bem-estar animal.
Carmen faz parte de uma minoria que cresceu nos últimos anos: a de mulheres dirigindo um estabelecimento agropecuário. De acordo com o último Censo Agro, divulgado em outubro (25), são 946,1 mil mulheres que trabalham como produtoras, o que representa 19% do total, superando os 13% registrados em 2006. “Acho que estava tão obstinada em assumir a direção e conhecer o negócio, que não considerei o fato de eu ser mulher como um limitador. Sempre tentei usar isso como uma forma de parceria, da visão masculina com a feminina, que são visões muito diferentes e quando se unem existe um complemento”, declara a pecuarista.
Entre 2017 e 2018, Carmen foi presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio, uma entidade que nasceu a partir da necessidade das mulheres do setor se reunirem para compartilhar a experiência na gestão. “Era um universo muito masculino mesmo, então elas resolveram criar o núcleo, que foi aumentando. Fazemos nove reuniões anuais de forma presencial. É um grupo para gestoras, para pessoas que realmente estão à frente do negócio”, afirma. Em 2019, por exemplo, o grupo de mulheres fez uma visita técnica a Israel para conhecer novas tecnologias.
União na agricultura
A aproximadamente 1.100 quilômetros de distância da fazenda de Carmen, a mineira Dayany de Assis (na foto de capa) administra meio hectare de terra com plantação de café orgânico. Quando criança, Dayany passava as férias no sítio dos avós e, mais tarde, começou a trabalhar na lavoura deles. Mas foi há 11 anos, quando se casou, que ela resolveu assumir a agricultura como profissão. “Meu marido tinha um hectare e meio de terra, com plantação de café convencional. Eu comecei a trabalhar junto com ele e depois conheci o grupo de mulheres produtoras de café orgânico e me identifiquei muito”, relata a produtora, que comprou um pedaço de terra para realizar o sonho de plantar café orgânico.
O grupo Mulheres Organizadas em Busca de Igualdade (Mobi), do qual Dayany é coordenadora hoje, nasceu com o objetivo de dar voz às mulheres na Cooperativa de Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam). A história do grupo mistura-se a de suas integrantes desde o seu início, em 2006.
Uma delas é a de Dona Maria, que ficou viúva e não tinha direito ao voto nas decisões da cooperativa. “Ela era a única mulher na fila para votar e não tinha direito ao voto porque a cota era no nome do marido dela. Foi uma situação muito difícil. A partir daí o grupo foi se fortalecendo e foi fazendo mutirão na casa dela para colher o café. Foi criando mais força, mais resistência”, relata Dayany. Atualmente todas as mulheres que são cooperadas na Coopfam têm direito de votar.
“Nós mulheres sentimos a necessidade de nos organizar, de ter direito a voz na nossa cooperativa. Desde o início era evidente que a gente precisava se organizar porque a gente não tinha direito a voto. Cada voto é por cota e essa cota ficava no nome dos maridos. O nosso espaço de fala não era respeitado. Senti a necessidade de nós mulheres ocuparmos nossos espaços e de aumentar nosso nível de conhecimento para ter como responder ao machismo”, declara Rosângela Paiva, uma das fundadoras do grupo.
Nascida e criada na zona rural de Minas Gerais, Rosângela hoje tem como principal fonte de rendimento a produção de tomates orgânicos. Ela também faz parte de outro perfil de produtora: a que compartilha a direção do estabelecimento com o marido.
O Censo Agro 2017 pesquisou pela primeira vez o compartilhamento de direção nos estabelecimentos. São 1.029.640 estabelecimentos compartilhados pelo casal, o que representa 20% do total, sendo 817 mil mulheres dividindo a direção com o cônjuge. “Então além da mulher ter aumentado na direção diretamente, agora ela aparece também na direção compartilhada”, explica o gerente técnico do Censo Agropecuário, Antonio Carlos Florido.
Empreendedorismo no campo
A Bahia é o estado com o maior número de mulheres que assumiram a direção de um estabelecimento agropecuário. Elaine dos Santos é uma das 303,7 mil mulheres que estão à frente do trabalho no campo no estado, número que considera produtoras que compartilham a direção com o cônjuge ou não. Desde os 17 anos, ela trabalha como agricultora na região de Valença, município litorâneo a 124 km da capital baiana.
Hoje com 27 anos, Elaine cultiva café, banana e mandioca em uma área de seis hectares. “Dedico-me à minha propriedade. Hoje minha fonte de renda é exclusiva da agricultura”, declara a produtora que, ao aplicar novas técnicas no estabelecimento, conseguiu aumentar a produtividade: passou de nove toneladas de mandioca por hectare para 30 toneladas utilizando a mesma área.
“Desde pequena sou apaixonada pela agricultura. Meus pais são agricultores, e isso ajudou a fortalecer ainda mais esse vínculo com o campo. Fui ganhando respeito e conquistando meu espaço, mostrando que nós mulheres somos capazes, sim, de cuidar dos afazeres da roça, vencendo o preconceito”, defende.
Fonte: Agro Rondônia