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Desconfortável com o barulho do estádio, menino autista recebe ajuda em partida na arena Corinthians
O espaço TEA é preparado especialmente para receber torcedores com autismo e elevar a inclusão nas partidas
Ir ao estádio torcer pelo time do coração, um simples passeio de domingo, comum para milhares de famílias pelo Brasil apaixonadas por futebol, movimentou uma discussão nas redes sociais sobre inclusão em atividades de esporte e lazer. No último dia 17, Joyce Favaro e o marido decidiram em cima da hora ir à Arena Corinthians, em São Paulo, junto com Leandrinho, filho de seis anos do casal, portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas o som barulhento e o aperto típico de uma arquibancada de estádio deixaram o menino estava desconfortável no meio da multidão.
Com pai e mãe apaixonados pelo time, Leandro começou a frequentar os estádios ainda na barriga da mãe. Joyce conta que, mesmo grávida, frequentou os jogos do Corinthians até o oitavo mês de gestação, no meio das torcidas organizadas.
Diagnosticado com TEA aos cinco anos, o grau de autismo de Leandro provoca maior sensibilidade sensorial — ele é mais sensível à textura de alimentos, ao frio, dor e também ao barulho. O menino já tinha ido a um jogo do Corinthians na Arena quando mais novo, mas por ser uma partida menos disputada, não tiveram problemas.
Desta vez, na partida entre Corinthians e Internacional, pelo Campeonato Brasileiro, a família ficou no setor superior, onde o som costuma ser mais alto pela acústica do estádio. Segundo Joyce, foi quando o barulho se intensificou e os torcedores ficaram de pé que o menino começou a se sentir mal. “Ele sempre acompanhou os jogos, para ele é uma festa. Mas, realmente, foi uma ocasião diferente, ele ficou bastante incomodado, agitado e pediu para ir embora. Esse é o primeiro sinal que ele dá quando não está legal, o corpo dele começa a falar”.
Foi nesse momento que a mãe viu no telão do estádio um aviso com o telefone de contato da Arena para auxiliar torcedores e enviou uma mensagem para saber se havia alguma alternativa para que não precisassem ir embora sem assistir a partida. Joyce afirmou que ficou muito surpresa com a velocidade que foi atendida e com a existência de um espaço específico para receber pessoas com TEA.
“Rapidamente localizaram a gente na arquibancada e nos levaram até a sala. Achei sensacional a iniciativa, meu filho ficou apaixonado com o espaço, tirou os sapatos e logo começou a brincar. O barulho lá era 90% menor do que na área externa e conseguimos acompanhar o jogo até o final com tranquilidade”.
O espaço TEA da Arena Corinthians tem capacidade para até 160 pessoas. Cada família pode comprar até 4 ingressos para assistir ao jogo no local, depois de se inscrever através do site. Segundo André Luiz Oliveira, diretor administrativo do clube, a sala foi sendo adaptada conforme as necessidades desses grupos. Lá as famílias vão encontrar televisões com programação infantil, brinquedos, figuras para serem coloridas e até emojis que expressam diferentes emoções e podem ajudar pessoas com grau mais elevado de autismo a se comunicar.
“Temos um departamento de responsabilidade social e começamos a observar que precisávamos de um espaço preferencial para que essas pessoas pudessem frequentar o estádio. O espaço está dando muito certo e o importante para nós é integrar cada vez mais pessoas e alcançar mais torcedores”, afirmou Oliveira.
Depois da boa experiência no estádio, Joyce decidiu compartilhar o caso em uma rede social e a história viralizou. Mais de 50 mil pessoas curtiram e mais de 40 mil compartilharam a publicação. Segundo Joyce, com a repercussão, muitas mães com filhos portadores de autismo começaram a tirar dúvidas sobre espaços preparados para recebê-los e ela se viu motivada a criar uma página para falar especialmente sobre isso.
“É um tabu muito grande falar sobre o autismo e muitos lugares não são preparados. Na verdade, deveria ser obrigatório ter esses espaços para receber as pessoas, o lazer é um direito constitucional. Se o meu filho gosta de futebol, porque não levá-lo para o estádio? Precisamos falar mais sobre isso e incentivar cada vez mais a socialização deles”, concluiu.
Fonte: Epoca