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Conhecemos Alyssa Carson, jovem astronauta e maior aposta para integrar primeira missão a Marte
Aos 3 anos de idade, ela decidiu que queria ser astronauta. Aos 16, se tornou a mais jovem a completar um dos principais programas de treinamento da Nasa.
Alyssa Carson fala de Marte como qualquer outro falaria de uma viagem para praia. Aos 18 anos, a jovem americana é uma das mais jovens da história a ter treinamento e certificação para fazer experiências espaciais e se prepara para realizar o seu maior sonho: ser um dos primeiros seres humanos a pisar no Planeta Vermelho.
Apesar de não saber muito bem quando que aconteceu, Alyssa credita sua paixão pelo espaço a um episódio do desenho animado Backyardigans, no qual os personagens fazem uma viagem a Marte. "Tinha um pôster desse episódio no meu quarto desde pequena. Nunca soube muito bem identificar o momento em que percebi que queria ser astronauta mas acho que esse é um símbolo importante", conta ela em entrevista à Marie Claire. A jovem -- que veio ao Brasil como palestrante do Innovation Lab, evento da plataforma de conhecimento Experience Club no qual falou sobre planejamento a longo prazo -- ainda conta que o interesse pelo assunto veio de forma orgânica e inesperada, "já que nenhum membro de sua família vinha do meio científico".
E o que parecia uma obsessão da infância parece estar se tornando cada vez mais realidade. Aos 15 anos, ainda no colégio, Alyssa começou a se dedicar ao sonho: completou experiências de verão e acampamentos científicos. Aos 16, já estava formada na Advanced Space Academy, importante programa de treinamento da Nasa para astronautas. Hoje, aos 18, se dedica a construir um currículo para conseguir entrar num programa de treinamento oficial da agência espacial americana no futuro. O primeiro passo: graduação em astrobiologia, que ela está cursando no Florida Institute of Technology. O objetivo é integrar a missão para Marte que a Nasa planeja fazer até 2033: uma viagem de pelo menos 3 anos, nunca antes feita pela humanidade.
E se Alyssa não se abala com os sacrifícios da profissão -- candidatos que não tem família ou não são casados são mais bem-vistos no processo seletivo -- ou os danos a longo prazo que uma viagem do tipo possa ter em sua saúde -- a radiação no espaço pode significar câncer a longo prazo, além de as viagens afetarem densidade muscular, óssea, sem falar do mental -- seu pai, que a acompanha nos compromissos profissionais, não fica tão seguro. "Aprendi a respeitar que esse é o sonho dela e que essa missão é maior que nós todos na Terra. Mas não consigo não pensar que ela estará indo para um local onde tudo e todas as condições querem matá-la", crava. Confira a seguir um trecho do papo com Alyssa.
Marie Claire: Qual é a parte mais difícil de se preparar para uma viagem interplanetária como a missão para Marte?
Alyssa Carsson: Acho que tudo começa pela construção de um currículo forte, com uma boa graduação em STEM (sigla em inglês que é um acrônimo para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e muita experiência prévia. Hoje sou treinada pelo projeto PoSSUM, que estuda a as camadas mais superiores da atmosfera e faz pesquisa astronáutica. A competição é forte. Para um programa na Nasa, são 18 mil inscritos e apenas 12 vagas. Espero passar no exame físico, que leva em consideração todos os danos que uma viagem espacial pode causar no seu corpo. No momento, a agência precisa de mais pessoal com experiência militar. A aposta é que conforme a missão vá progredindo, a prioridade acabe sendo treinar cientistas que possam viajar para Marte para coletar dados e estudar o meio-ambiente, avaliando a possibilidade de colonização.
MC: Você acredita que será possível colonizarmos outros planetas?
AC: Acho que estamos nos preparando e desenvolvendo tecnologia para isso. Marte é apenas um passo numa longa jornada do homem em sua descoberta do espaço. Assim como algumas luas de Júpiter poderão ser no futuro e em seguida outros sistemas e galáxias.
MC: Como seria essa viagem para Marte? Se fosse chamada para fazer parte de um time para colonização, iria?
AC: A missão da Nasa são ao todos três anos. Por volta de seis meses para chegar, mais dezoito meses por lá e outros nove para voltar. Não existe interesse por enquanto em colonizar pois é necessário entender o meio-ambiente, coletar informações e trazê-las de volta para Terra. Mas se fosse necessário ficar para sempre, não teria problema em ir. Esse projeto é muito maior do que eu.
MC: Existem muitas críticas sobre o fato de estarmos pensando em colonizar outros planetas enquanto não cuidamos do nosso próprio. Você faz parte de uma geração que luta muito pelo meio-ambiente e para tentar reverter os danos que já causamos por aqui. Como vê essa questão?
AC: Eu entendo que pode parecer irônico. Mas Marte não é apenas uma fuga dos problemas que causamos por aqui. O Sol, por exemplo, não estará aqui para sempre. Um dia ele vai explodir, e quando isso acontecer, nós todos iremos com ele. Ir para Marte faz parte desse pensamento a ultralongo prazo sobre a sobreviência da humanidade, de explorar outras possibilidades de manutenção da espécie em outros lugares do universo. Mas isso, claro, não deve acontecer por muito, muito tempo.
MC: É muito raro ver mulheres no STEM e menos ainda no meio de viagens espaciais. Já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher e jovem?
AC: Acho que o mundo está mudando e ainda bem, nunca sofri com nenhum preconceito por ser mulher. Na Advanced Space Academy, meus colegas tinham 30, 40 anos e eu sentia que não era levada a sério pela minha idade, mas isso nunca me abalou. Me inspiro muito em Sandra Magnus que como eu, decidiu que queria ser astronauta quando menina. Hoje ela já está em sua terceira experiência no espaço.
MC: Onde você se vê em 10, 20 e 50 anos?
AC: Espero em 10 anos estar formada, possivelmente com um PhD. Em 20, espero ter acabado de voltar de Marte e continuar a pesquisar o que conseguirmos coletar de informações por lá. Em 50, vou ter 68 anos e espero poder continuar falando da importância de exploração espacial e incentivando cada vez mais jovens e meninas a integrarem essa área. Acho que se o público não tivesse perdido tanto interesse no assunto depois da chegada do homem à Lua, nos anos 60, já poderíamos ter avançado muito mais.
Fonte: Marie Claire