Setembro Amarelo: Homens cometeram mais suicídios do que mulheres nos últimos 3 anos em Rondônia
Dados revelam que dos 347 suicídios ocorridos no período, 191 foram cometidos por homens. Especialista explica as causas dos números elevados.
Nos últimos três anos, os homens cometeram quase três vezes mais suicídios do que as mulheres em Rondônia. O levantamento foi feito pelo g1, através de dados divulgados pela Superintendência Estadual de Comunicação do Estado de Rondônia (Secom), referentes aos anos de 2019, 2020 e 2021.
Ao todo, foram 347 suicídios ocorridos no estado de janeiro de 2019 até o dia 10 de setembro de 2021, sendo 191 cometidos por homens, e 59 por mulheres.
Conforme a psicóloga Viviani Cecanho, a cultura machista ensinada desde criança aos meninos do Brasil e a facilidade no acesso às armas letais, são as maiores causas da alta taxa. Aquele ditado "homem não chora" repetido muitas vezes durante a vida, faz com que a procura por ajuda seja "vergonhoso".
"O homem não busca ajuda, desde criança ele é ensinado e educado que homem não sente e que homem não sofre, só que homem sente e sofre também. Então quando ele transborda de sofrimento, ele já está no cerne, na maior angústia de dor, e então ele busca uma forma de resolver de fato. Ele não busca um pedido de socorro, um grito, ele busca uma forma de resolver", explicou.
Os dados revelam também que, apesar dos homens terem tirado a própria vida mais vezes do que mulheres, são elas as que mais tentam. Das 373 tentativas de suicídio ocorridas nos três anos, 134 foram delas, e 118 dos homens.
"Quando o homem tenta o suicídio, ele já está no ápice do suportável. Os homens têm mais acesso as armas letais, as formas letais. Mulheres não, mulheres tem mais acesso a medicação, a arma branca. Homens têm acesso a formas letais de resolver o problema. Por isso que o maior índice de tentativas bem sucedidas de suicídio, são masculinas", explicou.
Faixa Etária
Os dados mostram que pessoas de duas faixas etárias são as que mais tentaram ou conseguiram tirar a própria vida no estado. São elas: jovens de 18 a 25 anos e adultos de 30 a 50 anos.
Conforme o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, uma das causas para a alta taxa nessa idade é a de que o desenvolvimento cerebral acontece até os 22 ou 23 anos de idade e por isso, a questão da resiliência e da capacidade de lidar com as frustrações podem não estar prontas. Quando esses jovens são expostos aos gatilhos, há uma predisposição para o aparecimento de doenças mentais, como a depressão.
Segundo a psicóloga Viviani, durante a pandemia, o jovem perdeu a fuga que tinha no convívio social e ficou limitado a própria casa, onde muitas vezes, sem uma base familiar harmônica, os gatilhos de doenças psicológicas são aflorados.
"Tirando a pessoa da balada, do convívio social, do convívio com os amigos, da fuga e refúgio, e colocando em convívio com a casa, com a família chata, com a casa chata, isso vai dar gatilhos de depressão que já existe. Já existe depressão, já existe ansiedade, e se não existe, vai aflorar porque vai dar gatilhos", explicou.
Já na faixa etária de 30 a 50 anos é a faixa em que a pessoa está com a "auto cobrança super aflorada", segundo Viviani. Quando tem um tempo livre, o adulto se aprofunda em pensamentos de insuficiência e desprezo por si mesmo, o que possibilita o adoecimento emocional e o pensamento suicida.
"A pessoa fica em casa pensando nos seus próprios conteúdos porque ela tem tempo. Geralmente, em um ambiente sem a pandemia, ela vai ter fugas no trabalho, no meio social, nas redes de contato, na balada, no passeio. Não tendo fugas, ela vai ser obrigada a ter contato consigo mesma. Uma coisa é você buscar uma terapia e ter contato com você porque você quer ter o contato, outra coisa é você ser obrigado. Então acaba trazendo gatilhos emocionais que a pessoa não sabe lidar", explicou.
Em relação aos adolescentes de 13 a 17 anos, somente este ano, 14 tentaram tirar a própria vida.. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de mortes de adolescentes no mundo.
Atendimento psicológico gratuito
Para tentar diminuir os efeitos psicológicos, algumas instituições de Rondônia estão ofertando atendimento gratuito, além de atendimento online para municípios que não oferecem o serviço sem custo. Confira lista:
Porto Velho
Centros de Atenção Psicossocial (Caps) Três Marias
Endereço: Rua Equador, nº 2212, bairro Nova Porto Velho
Público: Adultos em geral
Funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h
Contato: (69) 3901-2815
Caps Álcool e Drogas (AD)
Endereço: Avenida Guaporé, nº 3929, bairro Flodolado Pontes Pinto
Público: A partir de 17 anos
Funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 7h às 20h
Contato: (69) 9 8473-2898
Caps Infantojuvenil
Atendimento: Rua Matrinchã, nº 665, bairro Lagoa
Público: 5 a 16 anos
Funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h
Contato:(69) 9 8473-6436
Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir)
Atendimento: Problemas causados pela pandemia da Covid-19, vítimas de violência doméstica, pessoas com transtornos mentais e problemas da vida adulta
Público: A partir de 15 anos
Contato: 2182-2025 (WhatsApp)
Faculdades Integradas Aparício Carvalho do Curso de Psicologia (Fimca)
Atendimento: Triagem de Atendimento Psicoterápico, além do Plantão Escuta Psicológica, individual e grupal
Público: Crianças, adolescentes, adultos e casais
Funcionamento: Segunda à sexta, das 8h às 18h e sábado, de 8h às 12h
Contato: (69) 3217-8938 e (69) 3226-9589
Centro Universitário São Lucas (Unisl)
Funcionamento: Segunda a Sexta, das 14h às 21h
Contato: (69) 3211-8027
Fundação Ana Fonseca de Epilepsia (Porto Velho)
Atendimento: Abordagem cognitivo-comportamental
Público: A partir dos 16 anos
Contato: (69) 9930-6860
Cacoal
- Faculdades Integradas de Cacoal (Unesc Campus I)
Atendimento: Modalidade de psicoterapia presencial e online
Funcionamento: Todos os dias no período vespertino, entre às 13h30 e 17h e nas quintas-feiras no período noturno, entre às 19h e 21h
Contato: (69) 3441-4503 - Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal (UniFacimed/Cacoal-RO)
Público: Pessoas com idade acima de 12 anos e abaixo 59 anos
Contato: (69) 3311-1950 e (69) 99607-1656 (WhatsApp)
Vale ressaltar que voluntários do Centro de Valorização da Vida estão disponíveis para conversação em todo território nacional, 24 horas por dia, todos os dias, de forma gratuita. Basta ligar no 188.
Fonte: G1 RO