Aldeia de Rondônia adere ao sistema democrático para escolher cacique e vice-cacique
O sistema é inédito dentro dos povos indígenas do estado. Três chapas disputam as vagas
A democracia é manifesta também no coração da floresta, entre os povos originários. Índios da etnia Paiter Suruí, que habitam em Rondônia, vão eleger na próxima sexta-feira (17) o novo cacique-geral e o vice-cacique. A chamada "Labiway Esagah 2021", que ocorreu após assembleia-geral definiu três chapas, que juntas têm o mesmo objetivo: lutar pela melhoria da qualidade de vida do seu povo.
Os povos Paiter Suruí são um dos mais organizados dentro do território de Rondônia. O primeiro contato com eles foi feito em 1969. De lá para cá, por meio de suas atitudes e manifestações de resistência, comprovam que estão dispostos a fazer ainda mais história no estado. Adotando o modelo democráticos, comprova tal assertiva.
Há pelo menos um mês, os integrantes das chapas vêm realizando rodas de conversas e propostas de campanha dentro das 28 aldeias dos Paiter Suruí. No total, são 1.900 pessoas dentro do território "7 de setembro" que podem votar. Índios a partir de 15 anos são autorizados a manifestar suas escolhas.
O site conversou com exclusividade, por telefone, com um dos membros da comissão eleitoral, Celso Suruí, que explicou o motivo da adoção do sistema democrática em vez do modo hereditário, onde os caciques são indicados por seus ancestrais, de geração a geração. Uma comissão formada por oito pessoas terá a árdua missão de realizar a eleição, prezando pela transparência e organização.
"Optamos pelo sistema democrático porque percebemos que é o melhor modo para nós. Antes da escolha, nós fizemos reuniões com os nossos povos e percebemos que seria o melhor pois contemplaria todo mundo (...) Isso ajuda para que nós, índios, não nos sintamos isolados em nossas representações. Além disso, é um modo de mostrar que estamos avançando na sociedade (...) Cada pessoa terá o direito de escolher os seus representantes, e eles, os escolhidos, vão lutar por meio de políticas públicas para fortalecer a nossa instituição indígena, nos meios sociais e ambientais", explica Celso.
Marcada para iniciar logo nas primeiras horas de sexta-feira com previsão de término até a noite, a eleição tem as seguintes chapas: A chapa 1 é encabeçada por Henrique Suruí como cacique e Noel Suruí, vice. A chapa 2 tem Almir Suruí, como cacique-geral e vice, Anderson Suruí. Já a chapa 3 é composta por Naraymi Suruí, cacique e Miguel Suruí, vice.
Com 28 aldeias, cada uma receberá uma cabine de votação que ficará devidamente lacrada e só será aberta após os membros da comissão autorizarem o início da contagem das cédulas.
Publicações em rede social, uso de filtros em perfis e mensagens em aplicativos de textos. Esses são alguns dos recursos que os candidatos usam para conquistar o eleitorado. Assim como a adoção do sistema democrático, o uso da tecnologia neste processo ficou mais evidente, massivo.
Nas redes sociais, os índios exaltam as propostas dos postulantes bem como as qualidades dos "parentes". E analisando os perfis, a imaginação é grande entre eles.
A posse da chapa vencedora foi marcada para acontecer no dia 1° de janeiro de 2022. Os ganhadores ficarão no cargo por quatro anos, sem opção de reeleição. Após isso, uma nova assembleia deve ser criada para escolher os novos representantes.
"Nós vamos fazer uma grande festa para receber os nossos caciques. A festa vai ser grandiosa, como pedem os nossos povos. Nós somos alegres e precisamos comemorar em nossa aldeia mais um avanço", exaltou Suruí.
Celso Suruí explica que o novo cacique terá auxílio do clã [Grupo formado por índios anciãos] e que podem ser consultados assim que se julgar necessário. Os clãs são conselheiros experientes. "São quatro clãs que podem ser consultados pelo cacique ou pelo vice. Os clãs estão presentes nas aldeias. Os caciques terão acesso prioritário onde vão ajudar no processo das demandas da comunidade. Eles vão dar suportes, com ideias e conselhos valiosos", explicou.
O nome Paiter significa na sua língua oficial - “O Povo Verdadeiro, Nós Mesmos”. Os primeiros contatos com os homens brancos ocorreram através de expedição da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), chefiada pelo sertanista Francisco Meirelles. Já o nome "Suruí" foi sugerido por antropólogos.
O território dos Paiter Suruí é de aproximadamente 249 mil hectares. A língua usada por eles é grupo Tupi e família Mondé e o uso fluente da língua. A sociedade Paiter Suruí é composta por grupos patrilineares: Gameb, Gabgir, Makor e Kaban.
Fonte: News Rondônia