Tilápia: cooperativismo e logística transformam mercado no Paraná
Uma operação inédita é capaz de colocar uma tilápia abatida no estado em uma prateleira nos EUA em apenas 48 horas
O Valor Bruto da Produção (VBP) de pescados do Paraná deve chegar a R$ 1 bilhão neste ano, de acordo com Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria de Agricultura do estado. A principal responsável por esse número é a tilápia, espécie que representa 87% de toda a carne de peixe produzida no estado – cerca de 137 mil toneladas, em 2019.
Segundo o analista do Deral Edmar Gervásio, quase toda a produção de tilápia se dá em tanques montados em propriedades rurais. Além disso, a maioria dos criadores são integrados à indústria. “Quem fomentou e está fomentando o crescimento da atividade é a indústria processadora, mais especificamente as cooperativas. A integração é a força motriz [da atividade no Paraná]”, diz.
A produção teria começado a crescer nos anos 1990, com o que Gervásio chama de “boom do pesque-pague”. Mas foi nos últimos cinco anos, com ajuda das cooperativas, que o setor engatou uma marcha mais alta e começou a avançar com maior velocidade.
Força do cooperativismo
A maioria dos produtores de tilápia, principal peixe produzido no estado, mantém parcerias com fortes cooperativas paranaenses, com destaque para a Copacol, de Cafelândia, e a C. Vale, com sede em Palotina.
O engenheiro agrônomo Paulo Michelon, de Palotina, engorda 1,2 milhão de tilápias espalhadas em dez tanques. A produção é encaminhada para a C. Vale e, de lá, vira filé congelado e ganha o Brasil e o mundo, numa equação de ganha-ganha.
Entusiasmado com a criação, ele projeta ampliá-la com a aquisição de uma nova propriedade na região. É o caminho para praticamente dobrar a produção com mais um milhão de tilápias espalhadas nos novos tanques.
Ainda em Palotina, a criação do peixe transformou a aposentadoria de Adair Borin. Há cerca de dois anos ele deixou de arrendar a propriedade para plantadores de soja com a intenção de se dedicar à piscicultura. Hoje, tem 350 mil tilápias, divididas em oito tanques. “Estou gostando muito da atividade”, afirma.
Tilápia brasileira em Miami
Outra cooperativa paranaense, a Copacol, abate 160 mil tilápias por dia nos frigoríficos de Nova Aurora e Toledo, vindas de 230 produtores integrados. Número que, pelo planejamento, vai saltar para 250 mil peixes/dia, chegando a 400 associados em 2023.
“O mercado interno vai crescer. O mercado externo da tilápia também. Atualmente, a Copacol movimenta R$ 70 milhões por ano entre os produtores associados”, ressalta o presidente da cooperativa, Valter Pitol.
A Copacol iniciou a internacionalização dessa atividade com um projeto comercial piloto. Depois de abatida, a tilápia paranaense pode ser encontrada 48 horas depois nas gôndolas de supermercados de Miami, por exemplo.
Toda terça-feira, o peixe deixa o estado para desembarcar na cidade americana em apenas 48 horas. A operação de transporte tem precisão de relógio suíço (veja abaixo). A experiência tem sido um sucesso, tanto que a empresa já planeja dobrar as remessas, para duas vezes por semana.
Já a C. Vale de Palotina abate outras 100 mil tilápias por dia, com planejamento de curto prazo para chegar a 150 mil. “Com isso, ajudamos pequenos agricultores a permanecer no campo e se transformarem em micro e médios empresários. O impacto na qualidade de vida dessas pessoas é imenso”, explica o presidente da cooperativa, Alfredo Lang.
No ano passado, de acordo com os dados do Ministério da Economia usados como base do levantamento da Peixe BR, as exportações da piscicultura de cultivo (filés e subprodutos alimentícios ou não – peles, escamas, farinhas e outros) renderam US$ 12 milhões. Os pescados em geral geraram US$ 275 milhões.
O volume de produtos de pesca de cultivo exportado ainda é pequeno, mas cresce a cada ano. De 2018, quando foram enviados para fora do país 5.185 toneladas, para 2019 o acréscimo foi de 26% e passou a 6.543 toneladas. A tilápia está no topo, com 81% de participação. O Paraná foi o segundo estado exportador de tilápia e derivados, com pouco mais de 1.302 toneladas (24,47% do total). A primeira colocação é de Mato Grosso do Sul, com 2.085 toneladas (39,19% de participação).
Japão, China e Estados Unidos são os principais compradores da piscicultura de cultivo brasileira. Japão e China importam mais subprodutos.
Segundo Edmar Gervásio, do Deral, nem o Brasil, nem o Paraná têm tradição nas exportações de peixes. Porém, a expectativa é de grande crescimento nesta área.
“A piscicultura tende a ter um crescimento forte no mercado doméstico e também acredita-se na abertura para o mercado internacional. Em 2019, o Paraná exportou em torno de 195 toneladas de peixe, enquanto neste ano, de janeiro a setembro, foram 345 toneladas. A receita obtida ainda é pequena, em torno de US$ 600 mil, mas espera-se que nos próximos anos a gente tenha um avanço significativo na exportação de pescados”, disse.
O desafio, segundo Gervásio, é competir com mercados que apostam em peixes de captura, enquanto o Paraná coloca suas fichas em peixes de cativeiro. Além disso, sinaliza ele, o custo de produção e de logística é um dos problemas para acirrar essa competitividade.
Percalços
Dois fatores que impedem um crescimento mais intenso são: a diferença de preço em relação a outras proteínas, como a de frango, que é mais barata, e o baixo consumo per capita no Brasil.
“Ao longo dos últimos anos, com exceção do ‘soluço’ da pandemia, tivemos estabilidade de preço. Subiu menos do que a inflação no período”, conta Edmar Gervásio. A tendência, de acordo com o analista, é que os preços caiam conforme a produtividade cresça, pois isso reduziria os custos do produtor, otimizando o uso de ração e outros insumos.
Segundo Michelon, basta melhorar a renda que o brasileiro vai começar a comer melhor, acrescentando o peixe à refeição, sem falar na exportação, que ainda está engatinhando. “Essa nova geração também está mais preocupada com a saúde, e aí a carne branca se torna essencial”, disse.
Tilápia, preferência do consumidor
Quando separamos os pescados produzidos no Paraná, a tilápia se destaca como o principal produto. Em 2011, por exemplo, eram 34,5 milhões de quilos produzidos, contra 6,2 milhões de camarão marinho de captura. Em 2019, a tilápia passou para 137,9 milhões de quilos, enquanto o camarão caiu para 5,6 milhões de quilos produzidos.
De acordo com o balanço do último ano, a tilápia representa 87,6% da produção de pescados, seguida justamente pelo camarão marinho de captura (3,6%), pescado de água doce de captura (2,4%), pescado marinho (1,9%), pacu (1,8%) e carpa (1,8%).
O município que lidera a produção da tilápia no estado é Toledo, que apresentou um Valor Bruto de Produção (VPB) de R$ 426 milhões em 2019, com 43,3% do mercado na região. Na sequência vem Cascavel, com R$ 193,4 milhões e 19,7% do volume, e Paranaguá, com R$ 162,2 milhões e 16,5% do volume negociado.
Segundo o Anuário Peixe BR de 2019, o Paraná tem liderança folgada em tilápia, com produção de 146,2 mil toneladas, bastante à frente de São Paulo, que está na segunda colocação, com 64,9 mil toneladas, e de Santa Catarina, no terceiro posto, com 38,5 mil toneladas. A participação paranaense no mercado nacional de produção de tilápias é de 33,8%.
Com produção de 432.149 toneladas, a tilápia representou 57% de toda a piscicultura brasileira em 2019. No ano anterior, a espécie participou com 54,1%. O resultado de 2019 foi 7,96% superior ao de 2018, comprovando a preferência nacional pela espécie.
Fonte: Canal Rural