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Greening atinge 20,87% das laranjeiras de São Paulo e Minas Gerais
O gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, mostra preocupação em relação à tendência de crescimento da doença

Publicado 11/08/2020

Pixabay/Hans

Produtores de laranja de São Paulo e Minas Gerais estão preocupados com o aumento de quase 10% nos casos de greening no cinturão citrícola nesses estados. Segundo levantamento feito pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), de cada cinco laranjeiras, pelo menos uma foi afetada pela doença na última safra, o que corresponde a cerca de 41 milhões de árvores. O índice é 9,7% maior do que o de 2019, estimado em 19,02%.

O gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, mostra preocupação em relação à tendência de crescimento da doença, mas destaca a presença de regiões onde a incidência segue baixa e locais onde a doença diminuiu ou se estabilizou.

“Por um lado, os dados acendem um sinal de alerta para a necessidade da redução da incidência de greening no parque citrícola. Assim, a recomendação é que os citricultores intensifiquem o manejo interno, com rigor no controle do inseto vetor e na eliminação de plantas doentes, e também o manejo externo, que consiste na substituição de plantas de citros sem controle e de murtas ao redor das fazendas comerciais, em locais como pomares abandonados, quintais e calçadas, por outras espécies de frutíferas e ornamentais, que não são atrativas ao psilídeo”, enfatiza. “Por outro lado, existem boas notícias: além das regiões limítrofes do cinturão citrícola seguirem com baixa incidência, o manejo externo, quando associado ao manejo interno rigoroso, é efetivo e influenciou a redução e estabilização da doença em áreas consideradas críticas, como Matão, região onde a doença surgiu no país, e Duartina”, avalia.

Desde 2018, o Fundecitrus tem investido no suporte aos citricultores para o aprimoramento do manejo integrado das propriedades e adoção das ações de manejo externo, viabilizando a criação de grupos de trabalho conjunto, com transferência de conhecimento e novas tecnologias para um controle mais eficiente e sustentável.

O greening foi identificado no Brasil em 2004 e, desde então, avanços na pesquisa têm conseguido manter a competitividade do cinturão citrícola de SP e MG, a maior região produtora de laranja para suco do mundo. Apesar do aumento da incidência média de greening pelo terceiro ano consecutivo, o índice permanece bem abaixo dos mais de 90% estimados na Flórida (EUA). O estado norte-americano, que já foi um dos principais produtores de laranja, colheu, este ano, sua segunda menor safra desde a chegada da doença, em 2005.

Incidência por região

As regiões com maiores incidências continuam sendo Brotas (60,46%), Limeira (53,18%), Porto Ferreira (33,67%) e Duartina (30,81%). Em uma faixa intermediária estão as regiões de Avaré (16,77%), Altinópolis (15,73%) e Matão (14,47%). Bebedouro (8,92%), São José do Rio Preto (3,5%), Votuporanga (0,08%), Triângulo Mineiro (0,08%) e Itapetininga (1,63%) são as regiões com menor incidência.

Em Matão, Duartina, São José do Rio Preto, Votuporanga, Triângulo Mineiro e Itapetininga a doença diminuiu ou se estabilizou, isto é, a incidência permaneceu dentro do verificado nos últimos cinco anos. Em Brotas, Limeira, Porto Ferreira, Avaré, Altinópolis e Bebedouro houve aumento da incidência.

Em 2017, o Canal Rural mostrou o drama do João, produtor do interior paulista foi obrigado a erradicar mais de mil e trezentos pés de laranjas por causa do greening. A doença é causada por uma bactéria que deixa as folhas amareladas e inibe o amadurecimento do fruto.

“A gente não acreditava que isso acontecia entendeu. Mas infelizmente, esse pomar aqui tem oito anos, o greening já existia, a gente pensou que conseguiria fazer a pulverização e evitar que o greening continuasse, mas infelizmente não teve como”, disse, na ocasião

A doença, segundo Ivaldo Sala, Engenheiro Agrônomo da Fundecitrus, é causada por um inseto que passa a doença de uma planta doente para uma planta sadia, causando a derrubada das folhas, dos galhos e deixando o fruto seco.

Além de afetar a planta, o greening deixa o fruto muito mais ácido e menos doce, o tornando impróprio para o consumo. A doença surgiu no sudoeste da Ásia e chegou ao Brasil em 2004. De lá prá cá tem sido um desafio para os produtores combatê-lo.

Incidência menor nos extremos

Os extremos do cinturão citrícola (Triângulo Mineiro, Votuporanga e Itapetininga) possuem, historicamente, as menores incidências de greening, e o clima tem influência decisiva nesse cenário: tanto as altas temperaturas e o déficit hídrico observados nos setores Norte e Noroeste quanto às temperaturas mais baixas do Sudoeste são menos favoráveis ao desenvolvimento do psilídeo e da bactéria que causa a doença. Nas regiões mais centrais, o clima é mais favorável a ambos praticamente durante o ano todo.

Manejo interno rigoroso e ações externas 

Apesar de apresentarem condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento do greening, a incidência da doença diminuiu pelo terceiro ano consecutivo em Matão (-16,3% em relação a 2019) e se estabilizou em Duartina (-5%), embora ainda seja considerada alta. Essas regiões apresentaram as mais elevadas taxas de participação nas ações de manejo externo feitas em parceria com o Fundecitrus, 77,4% e 51,9% da área comercial de citros, respectivamente. São José do Rio Preto, que mantém baixa incidência, tem 43% da área comercial de citros da região participando das ações externas.

Pomares mais velhos e propriedades menores possuem maiores incidências

Considerando a idade dos pomares, a maior incidência de greening foi observada naqueles com mais de 10 anos (28,59%), seguida pelos pomares de 6 a 10 anos (20,35%), de 3 a 5 anos (11,36%) e de 0 a 2 anos (1,69%), o que indica que há um bom rigor no manejo da doença nos pomares jovens, com controle do psilídeo e eliminação de plantas doente, e menor rigor na eliminação de plantas doentes nos pomares adultos.

“A manutenção de plantas adultas doentes nos pomares dificulta a diminuição da doença nos próximos anos e, possivelmente, resultará em um aumento na severidade dos sintomas, com agravamento da taxa de queda prematura de frutas, redução da produção e da qualidade do fruto e em maiores riscos na implantação de novos pomares”, adverte o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi.

Quanto menor a propriedade, maior é a incidência de plantas com sintomas de greening. Nas propriedades com até 10 mil plantas (até 21 hectares), a incidência é de 44,07%, e nas fazendas entre 10,1 mil a 100 mil plantas (21,1 a 210 ha), a incidência é de 30,83%.

Isso ocorre pelo chamado “efeito de borda”: as propriedades menores possuem a maior parte de suas árvores localizadas nos talhões de borda, ou seja, nos primeiros 100 metros a partir das divisas, local onde a maioria dos psilídeos vindos de fora se instala e, consequentemente, que possui maior incidência (23,42%) do que os talhões do interior dos pomares (12,81%).

No entanto, as incidências nas propriedades maiores aumentaram em relação a 2019 e estão em 18,93% nas fazendas de 100,1 mil a 200 mil plantas (210,1 a 420 hectares) (+17,1%); e 12,89% nas propriedades com mais de 200 mil plantas (superior a 420 ha) (+26%).

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Fonte: Canal Rural