Dólar alto acelera venda antecipada da safra de soja 2020/2021 no Brasil
Relação de troca com insumos, por outro lado, apresenta piora.
Foto: Eduardo Monteiro/Divulgação
A expressiva alta do dólar nas últimas semanas tem acelerado as vendas antecipadas da safra 2020/2021 de soja no Brasil, com a desvalorização cambial compensando as perdas em bolsa.
Com a oleaginosa cotada abaixo dos US$ 9 o bushel em Chicago, a saca negociada em Paranaguá (PR) supera R$ 95, com alta acumulada de 6,65% na parcial de março, até o dia 19, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, calculado pelo Cepea.
“Não há dúvida de que a puxada do câmbio incentivou uma comercialização mais forte das vendas em reais”, observa Pedro Djeneka, sócio da MD Commodities.
Segundo ele, pelo menos 20% do esperado para a próxima temporada no país já foi comercializado, chegando a mais de 33% em algumas regiões. “Não há dúvida de que as fixações em reais para 2021 aumentaram muito."
Disparada no MT
Djeneka lembra que, em todo o país, algumas regiões têm maiores percentuais dos seus custos em dólar do que em outras, como o Centro-Oeste. “Em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e até Rondônia, temos um percentual de custo em dólares bem maior do que no Sul”, explica o analista.
E é justamente no Mato Grosso que a comercialização da soja que será colhida em 2021 está mais adiantada. Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), 20,27% da safra estava comercializada até o último dia 9 de março, bem acima dos 2,45% observados em igual momento de 2019/20.
Segundo Adriano Gomes, analista da AgRural, a maior parte dos negócios fechados no último mês foram realizados com base na troca por insumos, principalmente fertilizantes, cuja relação de troca com a soja estava favorável.
Relação de troca
Se de um lado a alta do dólar ajuda no preço da soja de exportação, por outro tem feito com que relação troca favorável por insumos perca força - em grande parte devido à desvalorização da soja em dólar e a valorização dos fertilizantes no mercado internacional.
Levantamentos da FCStone, com base no Porto de Paranaguá (PR), apontam que, desde o início do ano, o preço em dólar da ureia aumentou 10% e o do MAP subiu 17%. A exceção foi o cloreto de potássio (KCl), que caiu 16%. Em reais, houve aumento de 16% da ureia, de 25% no MAP e queda de 9% no KCl.
Com isso, a relação de troca entre o MAP e a soja ficou 27% mais cara desde o início do ano. Na mesma base, a relação entre MAP e milho aumentou 23% e, no Rio Grande do Sul, a relação do nutriente com o trigo subiu 21%.
Já a relação entre milho e ureia ficou 14% mais cara para o produtor, com base no Porto de Paranaguá. No Rio Grande do Sul, a relação entre o mesmo nutriente e o trigo ficou 13% mais cara.
Acomodação
Já no final do segundo trimestre, entre maio e junho, a expectativa é de alguma acomodação no mercado, já que esses países que demandam mais agora devem reduzir sua participação. Com isso, pode haver uma situação um pouco mais confortável para o produtor brasileiro, avalia Gabriela Fontanari.
“Tem espaço para o produtor brasileiro porque a antecipação é menor do que 30% para a safra 2020/2021. Agora, o mercado está permeado de incerteza. Uma maior clareza só deve voltar a partir de abril”, estima a analista do mercado de fertilizantes da INTL FCStone.
Já Gomes, da AgRural, lembra que os fertilizantes são apenas uma parte dos insumos a serem fixados para próxima temporada.
Fonte: Revista globo rural