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'Nunca estamos preparados para perder pessoas', diz Lázaro
Herói da semifinal e da final do Mundial Sub-17, o jogador fala dos amigos que perdeu no incêndio no Flamengo em fevereiro e sobre o futuro no futebol

Publicado 01/12/2019

Foto: Buda Mendes / FIFA via Getty Images

Ser campeão do Mundial Sub-17 é uma sensação que vou levar para o resto de minha vida. Sou um garoto do Ninho do Urubu, centro de treinamento das categorias de base do Flamengo. E falar sobre o incêndio de fevereiro é complicado. Eu conhecia quase todos, menos o Gedson, que tinha chegado havia pouco tempo. Eu era mais ligado ao Rykelmo. Nunca estamos preparados para perder pessoas próximas. Então, quando isso acontece, temos de ser fortes. Não é fácil. Com o passar do tempo, fica um pouco mais tranquilo. Mas bate sempre a lembrança. Eu conhecia quase todos que morreram lá. Sempre disse nas entrevistas que todos os gols seriam para eles.

Participei da preparação da seleção sub-17. E, como todo mundo ali, queria estar na lista para o Mundial. Fiquei inquieto quando vi que não estava na relação de nomes. Depois, quando o Juan, do São Paulo, se machucou, mandei mensagem para ele. Eu estava treinando quando me avisaram que ele tinha se machucado. Ao ser convocado no lugar dele, coloquei na cabeça que na hora certa mostraria meu futebol e aproveitaria a oportunidade.

Antes da semifinal do Mundial, joguei cerca de 30 minutos contra Angola, na primeira fase. Mas, em jogos grandes, temos de estar preparados. O professor Guilherme ( Dalla Déa, técnico da seleção ) fala que vamos ter uma, duas oportunidades. Por isso eu treino finalização. Mesmo sem jogar muito, a cabeça estava tranquila. É claro que todo jogador quer entrar. Quando veio a chance, aproveitei.

“O MELHOR DIA DE MINHA VIDA FOI A FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO SUB-17 DESTE ANO, LÁ EM CARIACICA, NO ESPÍRITO SANTO. O FLAMENGO FOI CAMPEÃO. FORAM 14 JOGOS E 14 GOLS MEUS NA CAMPANHA”

Comecei cedo no futebol, com 6 anos, jogando campeonato numa escolinha do Flamengo em Rio das Ostras, no litoral do estado do Rio de Janeiro. Enfrentava garotos mais velhos, de 8 anos, e já me destacava. O dono da escolinha disse para minha mãe que tinha marcado um teste no Flamengo. Foi um momento de muita felicidade para mim. Em duas semanas, ele me falou que eu tinha passado. Foi ali que tudo começou. Era futsal, que é bastante importante para nós, jogadores. É o início de tudo, onde você aprende muita coisa para fazer no campo. Facilita.

Na vida do jogador, as coisas acontecem rápido. Hoje, você pode ser ninguém. Mas amanhã, em um jogo, já pode ser reconhecido. Quando eu tinha 14, 15 anos, a rapaziada me conhecia um pouco. Mas desde cedo tive a cabeça no lugar. Cheguei à seleção brasileira no sub-15. Meu primeiro jogo foi um amistoso contra o Fluminense, na Granja Comary. Mas a primeira partida oficial foi nos Estados Unidos, um Brasil versus Holanda, em um torneio da Nike, em 2017. O Brasil ganhou por 2 a 1. No ano passado, eu estava jogando bem, pela ponta, só que não tinha esse negócio de um gol atrás do outro. Temos de saber lidar com isso. A diferença era grande. Mudei de camisa 9 para camisa 10. Com o passar do tempo, fui ganhando experiência.

O melhor dia de minha vida foi a final do Campeonato Brasileiro Sub-17 deste ano, lá em Cariacica, no Espírito Santo. O Flamengo foi campeão. Foram 14 jogos e 14 gols meus na campanha. Estar num estádio com 23 mil pessoas, em um ambiente profissional, com a torcida gritando seu nome é bastante gratificante. A equipe precisava disso até para honrar os garotos do Ninho do Urubu.

Hoje, com 17 anos, tudo que pedi a Deus quando era pequeno está se realizando. Mas sou muito novo ainda. Tenho muito para viver na vida e aprender. Quero sempre manter os pés no chão. Tenho contrato até 2025 com o Flamengo. Meu objetivo sempre foi chegar ao profissional aqui. Mas tenho de fazer meu trabalho. Acho que sou um garoto tranquilo. Fico muito com minha namorada. Estou com ela há um ano e um mês. Ela está sempre me ajudando. Temos de dar valor. Gosto de ficar com a família também, tenho pai, mãe e irmã. A vida tem altos e baixos.

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Fonte: Epoca