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Cúpula se encerra na França com US$ 27,55 bilhões para nutrição
Foram firmados 403 compromissos financeiros ou políticos no encontro

Publicado 28/03/2025

Foto: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A cúpula Nutrition for Growth (N4G) – Nutrição para o Crescimento – foi encerrada nesta sexta-feira (28), em Paris com um saldo de US$ 27,55 bilhões em compromissos financeiros para a nutrição global. No total, foram firmados 403 compromissos financeiros ou políticos na cúpula.

O evento, iniciado em 2013 e realizado de quatro em quatro anos por anfitriões dos últimos Jogos Olímpicos, reúne governos, empresas e sociedade civil, em busca de garantir compromissos políticos e financeiros para fornecer nutrição saudável e sustentável para a população global.

Mesmo com o fim do evento, ainda será possível firmar compromissos financeiros e políticos junto à plataforma da N4G de Paris até junho deste ano.

O ministro de Francofonia e Parcerias Internacionais da França, Thani Mohamed-Soilihi, agradeceu as parcerias com o setor privado, filantropos e bancos de desenvolvimento, "que mostraram que a luta contra a má nutrição é assunto de todos".

"Temos que recusar coletivamente um mundo onde a má nutrição é responsável pela metade das mortes de crianças com menos de 5 anos. Graças à solidariedade e ação coordenada, temos as chaves para construir um futuro mais justo e resiliente", disse Mohamed-Soilihi.

Segundo o secretário-geral da cúpula, Brieuc Pont, foi positivo conseguir um valor que supera o levantado na edição anterior do evento, em Tóquio, em 2021 (US$ 27 bilhões), ainda mais em um contexto de cortes de fundos para ajuda internacional. Ele destacou, no entanto, que é preciso mais do que o dinheiro.

"Não tem sentido angariar dinheiro a cada quatro anos como se fosse um concurso de beleza, se você não tiver uma visão, uma direção."

Assuntos
Um dos principais assuntos discutidos por especialistas e governos no evento foi a necessidade de buscar parcerias público-privadas para garantir financiamento de ações em um cenário de cortes em auxílios internacionais por países ocidentais.

Nesta sexta-feira (28), o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) divulgou uma nota em que alerta que os cortes na ajuda internacional reduziram em 40% o seu orçamento para este ano. Com isso, existe o risco de comprometimento da assistência a 58 milhões de pessoas, em 28 de seus projetos de resposta a crises, a não ser que novos fundos sejam recebidos urgentemente.

A cúpula tratou ainda da urgência em resolver problemas nutricionais do planeta antes de 2030 e da necessidade de mudanças no sistema produtivo de forma a incentivar modelos de produção de alimentos mais sustentáveis, além da resiliência em situações de conflito e perante as mudanças climáticas.

A forma desigual sobre como a fome atinge a população global, em especial as mulheres e crianças de países mais pobres, também foi tratada no evento.

"No decorrer das últimas décadas, o mundo teve um progresso significante em reduzir a má nutrição infantil. Mas hoje estamos enfrentando uma crise de financiamento que ameaça reverter nosso progresso e mulheres e crianças infelizmente vão arcar com o peso disso", afirmou a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell, em discurso nesta sexta-feira.

"Quando a comida é escassa e falta dinheiro, as mulheres servem primeiro os homens e crianças, para quem são destinadas as melhores e maiores porções. Elas comem menos ou podem até nem fazer a refeição. De 2019 a 2022, a lacuna dos gêneros em relação à insegurança alimentar mais que dobrou."

Declarações
O evento também foi finalizado com a divulgação de três declarações: do setor privado, dos jovens e da sociedade civil.

A declaração do setor privado, divulgada pelo Fórum de Paris pela Paz, destacou a necessidade de reformular a economia da nutrição por meio de uma abordagem multissetorial e de um esforço conjunto de governos, sociedade e empresas, a fim de enfrentar a má nutrição em todas as suas formas: subnutrição, obesidade e  deficiência de micronutrientes.

Entre as propostas da declaração estão a mudança do modelo dos subsídios governamentais para que eles sejam direcionados à comida mais nutritiva e localmente produzida; e a necessidade de empresas assumirem responsabilidade pela reformulação de seus produtos, oferecendo alimentos mais saudáveis e evitando fazer propaganda para produtos não saudáveis.

Já os jovens destacam, em sua declaração, que o futuro de seus países depende do enfrentamento à má nutrição e que a nutrição da juventude está ameaçada por alimentos processados, que podem causar câncer, pela falta de acesso à água potável e pelo saneamento impróprio.

Para a juventude, todos devem se responsabilizar – governos, empresas e sociedade civil. Segundo a declaração, a nutrição não afeta apenas o bem-estar individual, mas das nações como um todo. O documento destaca que as recomendações têm apoio de mais 100 organizações, que representam milhares de especialistas em nutrição, ativistas, jovens, trabalhadores de campo e profissionais comprometidos com o acesso universal à boa nutrição.

A declaração da sociedade civil cita que a polarização política, o autoritarismo e agendas nacionalistas dificultam esforços colaborativos para enfrentar desafios globais. "Cortes de ajuda – estimados em 44% – ameaçam décadas de progresso, com o financiamento para desnutrição aguda grave caindo em US$ 290 milhões", aponta o texto, ao ressaltar que os cortes podem resultar cortes em mais 369 mil mortes de crianças anualmente. 

O documento destaca que a cúpula é uma oportunidade de impulsionar a ação global sobre nutrição. As principais recomendações são colocar as pessoas em primeiro lugar, garantir responsabilização e transparência sustentadas para compromissos de nutrição, assim como financiamento sustentável, tornar a nutrição um pilar central do desenvolvimento global e resposta à crise, e responsabilizar o setor privado pelas soluções nutricionais. Segundo o texto, a declaração recebeu o apoio de mais de uma centena de organizações.

A próxima cúpula está prevista para 2029, nos Estados Unidos, mas há receio de que, devido às decisões do presidente estadunidense, Donald Trump, de cortar fundos para organismos internacionais e para ajuda humanitária, o evento possa ser cancelado ou tenha que ser realizado em outro país.

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Foto: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil